Um pouco do resto


Sabe a carência, o mal do século?
Aquele vazio que te dá, o aperto no peito, sentimento de solidão...
Aí, você se vê sozinho, num escuro vazio, entorpecido consigo mesmo?
Eis que vem a luz, ou se preferir, pode chamar de esperança, ou ainda, possibilidade.
A definição já não importa, os sintomas, esses sim, não mudam.
Vai chegando sorrateiro e devagar, com um jeito manso, bem peculiar, deixando você bobo, abestalhado, avesso a tudo que é contra e só enxergando aquilo que, eu vou chamar de “coisa”.
“nunca pensei que você me deixaria desse jeito, sem dormir direito”...
A “coisa” entranha e com ela vem a paranóia, você passa a fantasiar, criar aquela tal expectativa, que por muitas vezes é cruel e perversa, pois você só acaba enxergando aquilo que te convém, esquecendo o meio e, principalmente, o óbvio.
A próxima fase é querer ver a “coisa” em todas as cores, identificá-la em todas as músicas, passa a ser presença nos seus planos e sonhos e, a partir daí, você passa a chamá-la de “paixão” e sai cantarolando:
“eu tô apaixonado, eu tô contando tudo e não tô nem ligando pro que vão dizer”...
No entanto, quando você sente uma “coisa” é por alguém; quando se apaixona é por outrem, por mais que você queira, deseje, esteja ansiando por isso, nunca, jamais, em tempo algum, poderá fazer isso sozinho.
Carinho, afeto, sentimento, uma simples pegação que seja, até o beijo – momento sublime, precisa da outra parte. Por mais que você tente, não vai conseguir ir muito longe, não sozinho.
“vem me tirar do sonho, me livrar do abandono, faz isso ser real”...
É chegado o momento que você decide cair fora, praticar o desapego, enaltecer o amor próprio, seguir sozinha, afinal, foi assim que você sempre esteve. Qualquer outro status era mera fantasia, aí enche a boca e canta:
“hoje eu acordei gostando mais de mim, vou cair fora numa boa”...
Depois de tudo isso eu pergunto: em algum momento você colocou pra fora essa “coisa” ou paixão, ou já nem sei mais?
Você teve a atitude madura que um sentimento pede pra expor o que sente?
Ah... você brincou de indiretas, letrinhas de músicas, olhares e viveu tudo como se fosse conto de fadas?
E, você acredita mesmo que todos tem a capacidade de discernir o que lhe cabe ou não dentro de um contexto de redes sociais cada vez mais chulo?
Que tal trocar a falta de atitude por uma personalidade única e incrível?
Ou você vai mesmo deixar a vida passar e perder a chance de dizer pra alguém o que sente, que essa “coisa” linda pode se tornar um “amor de verdade”?
“um amor de verdade, minha outra metade, desfalecer nos seus braços depois de tanto prazer”...
Enfim, acredito e defendo que sempre, por mais que a pessoa queira praticar o desapego, afastar-se, esquecer, sempre sobra um pouco do resto, a raspa do tacho, a última bolacha do pacote, a luz no fim do túnel.
Faça acontecer, quem sabe a outra parte faz valer a pena!

Gabi D.

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