Mede-se a felicidade?




Partindo de uma leitura muito gratificante, decidi fazer uma reflexão sobre a felicidade.

Isso mesmo, a tal felicidade, tão almejada, procurada, invejada...

Então, onde é que mora a tal felicidade?

A busca pela felicidade é uma das principais fontes da infelicidade, disse o filósofo e escritor americano Eric Hoffer.

Ser feliz nunca esteve tão na moda. O sorriso constante para as câmeras é apenas uma das manifestações do que tem sido chamado de "tirania da felicidade".

Você tem sido obrigado a demonstrar uma felicidade que não é real, na tentativa de passar para as pessoas aquilo que elas esperam de você. E vai dormir cansado e frustrado por jamais ter conseguindo atingir às expectativas.

Sabia que existe um sociólogo, o Dr. Ruut Veenhoven que criou e coordena o maior banco de dados do mundo sobre felicidade? O World Database os Happiness mede os índices de felicidade das nações e reúne mais de 8 mil estudos sobre o tema.

Aí você deve se perguntar, como se mede a felicidade?

Ah, baby, pra isso, é importante saber o que te coloca pra cima, o que te puxa pra baixo, as suas escolhas, as pessoas que te cercam, o meio em que você vive, a realidade dos seus dias.

A felicidade ela pode ser medida individual ou subjetiva, tudo depende dos fatores. Muito embora, eu defenda e acredite que só depende de você.

Claro que não é fechar os olhos pra o que tem lá fora e nem enganar-se com as pessoas, é escolher tirar disso as melhores lições, fazer as escolhas que te trazem bem estar e lidar com as situações a medida que elas forem surgindo, sem atropelos, sem desespero.

O Dr. Ruut reforça comparando a felicidade à saúde: é influenciada pelo meio em que vivemos, pela genética, pelas circunstâncias e pela sorte, embora possa aumentar dependendo de nosso comportamento.

"Pessoas  felizes não são pessoas que não têm problemas. são aquelas mais preparadas para enfrentá-los, porque geralmente têm bom senso, resistência, capacidade de tolerar frustrações etc".

Para o escritor russo Tolstoi, todas as famílias felizes se parecem, mas as famílias infelizes são infelizes cada uma à sua maneira.

A lição mais sublime da leitura foi a seguinte: Sempre existirão pessoas mais felizes que outras num mesmo meio, num mesmo ambiente. Até no céu: se você chegar lá, verá que algumas pessoas  estarão mais felizes. São aquelas mais bem equipadas do ponto de vista psicológico.


"É realmente muito difícil saber a causa, ou as causas, de nossa felicidade. às vezes, a gente fica no escuro mesmo".


Na sua pesquisa o Dr. Ruut cita dois fatores importante: o primeiro é que a saúde mental é muito mais importante para a felicidade do que a saúde física e, mesmo assim, investimos muito mais na saúde física; o segundo é que nada garante a felicidade, nem amor, nem dinheiro, nem mesmo a família. Mas algumas coisas podem ajudar muito, principalmente a qualidade das relações que temos com as pessoas mais próximas. A competência para conviver pode ser um grande aliado da felicidade".

O professor da Universidade Johns Hopkins, P.M. Forni emenda: "quando diminuímos o peso da existência para aquelas pessoas que nos cercam, é sinal de que vivemos bem". Talvez seja essa a maior competência em termos de convivência, diminuir o peso.

A partir dessa leitura, tive a certeza de que, em vez de correr atrás da felicidade, prefiro andar em busca da leveza. Na medida do possível, sem pressa e dando um passo de cada vez.

Talvez eu peque por não dizer o que você quer ouvir, por não seguir os roteiros impostos por uma sociedade vazia, por não me colocar no centro do mundo, e não querer fazer bonito pra ser bem vista. Prefiro acreditar que não estou pecando, apenas sendo eu, que ri, chora, briga, apoia, cai, levanta e, acima de tudo, tem os pés no chão, a cabeça no mundo e um coração aberto pra tudo que me fizer bem e eu achar que é certo. Estou vivendo à minha maneira.

A felicidade virou obrigação. Como se já não tivéssemos peso suficiente para carregar, agora transportamos de um lado para o outro o que o historiador americano Darrin McMahon chama de "a infelicidade de não sermos felizes". Ou como o filósofo Renato Janine Ribeiro define "espantoso e terrível paradoxo" de a felicidade ter virado fardo e dever.

Por essas que prefiro dar lugar à leveza, que aceita conviver com a tristeza, a angústia, as frustrações, as limitações, ou seja, viver  a vida como ela é.

Finalizo essa reflexão sobre felicidade com a brilhante aula do filósofo Renato Janine Ribeiro: "A tradição filosófica distingue a felicidade e o prazer. Prazeres se dão no instante, e nele se produzem e se esgotam. Nosso tempo celebra em especial os prazeres que têm na paixão amorosa seu paradigma. Mas, a paixão é, segundo a etimologia, aquilo em que somos passivos. Somos então tomados, possuídos, dominados pelas paixões. Elas, além disso, nos iludem. o estado da paixão é um estado de engano. Enganos são necessários. A vida em sociedade é feita de inúmeros enganos. São, também, inevitáveis. Mas a busca da felicidade é outra coisa. A felicidade, diz Rousseau, é 'um estado simples e permanente', em que 'a alma basta a si mesma'. Não é uma  sucessão de estados eufóricos e depressivos. Nossa época é um tanto bipolar porque, de tanto buscar a euforia, ela cai inevitavelmente na depressão e na melancolia. Então, quando fazemos da felicidade uma obrigação, estamos chamando de felicidade o que é, mesmo, um prazer intensificado e permanente. O único problema é que isso não existe... A felicidade é mais modesta. Faz parte dela o aprendizado, a renúncia, a capacidade de converter a decepção em algo positivo. Em outras palavras, só é feliz quem souber reciclar tristezas. Frustrações são importante matéria-prima para a felicidade".

Vamos viver a vida como é ela, sejamos nós mesmos, não aquilo que o outro espera que a gente seja. Digamos que a felicidade é um prato bem elaborado, os ingredientes estão lá, mas falta o modo de fazer, por isso que digo, depende de você.

Dica de leitira: A arte de ser leve, Leila Ferreira. Editora Principium.

Gabi D.

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