Oi Gabis, essa que vos escreve
sou eu, Gabi, quer dizer, sou você pequena, criança ainda.
Olha, eu gostaria de compartilhar
com você como foram esses últimos dias, pois eles vão impactar bastante nas
suas crenças limitantes lá na frente.
Eu já não posso mais entrar no
quarto de mainha e ficar fazendo trancinhas na varanda da rede. Os adultos
estão querendo me enganar, sempre nos tirando de casa para passeios, lanchinhos
e doces. Mas, eles parecem que esquecem que eu sou criança, não burra, né? Sinto
que mainha está indo embora.
Foram dias bem tristes, até o dia
que ela partiu, 13 de setembro. Eu senti tudo, Gabis. Senti um vento estranho
quando estávamos lanchando, depois senti um aperto quando vovó Maria foi nos
dar a notícia. Foram dias bem tristes, eu sinto um vazio que não sei explicar.
Por vezes você vai sentir esse vazio também. Mas, acredito que o tempo irá
contribuir muito para aliviar essa dor. Nós somos muito fortes, gordinha. Temos
uma luz própria e uma garra sem igual.
Eu vou lhe situar um pouco. Desde
que eu tive que vir pra Caicó não está sendo fácil. Eu não gosto do colégio. As
amigas de Carol são um saco. Tio Oberdan olha pra mim sempre atravessado. Não
tem minhas amigas pra brincar na rua. E mainha, bem, mainha não tá em condições
de cuidar de mim. Só me restaram Carol e tia Angelita, elas são ótimas. Me
sinto super acolhida por elas.
Estamos em 1990, quando terminar
o ano eu vou voltar pra Natal. Me colocaram para escolher onde eu queria ficar.
Eu acho que gostei disso, afinal é a minha vida, né? Espero que você me culpe
por essa escolha. Eu só pensei na gente. J
Escolhi ir pra Natal. Ainda tá em
tempo de Nega “aprender” a ser mãe. E eu a ser filha dela, já que mainha não tá
mais aqui. Espero que toda essa mudança não bagunce ainda mais minha cabeça.
Uma mãe nova, numa casa nova, um
colégio novo, novos amigos. Ufa, Gabis, isso é o que eu chamo de recomeçar e eu
acabo de completar 8 anos! Tá vendo porquê digo que nossa garra é sem igual.
Aqui é o momento que talvez eu
lhe decepcione, mas devo confessar, não me adaptei. Nem à casa, nem à rotina,
tampouco a ser filha. Eu não aceitava que alguém “tomasse” o lugar de mainha. O
colégio eu não tive muita escolha, fiquei lá até a 6ª série, quando Nega não
conseguiu mais pagar. Ainda bem que eu já tinha me entrosado com a turma.
Com essa não adaptação, você
volta para Condor e passa a viver com Manedim, Onaldo e Obedis. Isso explica o
nosso vício por coca-cola e cachorro quente. Sinto lhe informar, mas tenho pra
mim que isso vai nos acompanhar por toda vida.
Quando não tava no colégio ou
brincando na rua com uma ruma de meninos e meninas, eu vivia na casa de Fátima,
ela também foi um pouco minha mãe.
O que eu preciso que você saiba, Gabis, é: nunca você estará sozinha.
Sempre vai ter alguém para cuidar
de você. Mesmo que você não enxergue, não aceite ou até mesmo não queira, Deus
não deixará você sozinha.
Falando em Deus, gordinha, você
quando amadurecer mais, não culpar Ele ou a vida por ter levado mainha, aceitar
e entender melhor as coisas, vais construir uma sintonia tão bacana. Vocês
serão tão íntimos que vai render uma linda história. O mundo ainda vai ouvir
falar em #DiogoDoCéu. J
Ainda comigo, quero dizer, enquanto
eu estou vivendo você na infância, muitas pessoas fizeram esse papel de nossa
mãe, Pom Pom, tia Angelita, tia Suyenne, Aline, cuidaram de mim quando eu ia
passar fds ou férias na casa delas. Um capítulo à parte é tia Ocyara, acho que
ela já era nossa mãe antes mesmo de eu nascer. E tenho certeza que será assim
até você morrer.
Quando você tiver lendo essa
carta, Ocyara e Ocimara (Nega), serão as suas principais referências de
família. Embora, você ainda não aceite que nenhuma tome o lugar de mainha.
A sua batalha mais difícil,
Gabis, vai ser com você mesma. Vencer seus medos, dores, traumas, angústias,
vazio, tristeza. O maior trauma está sendo vivido agora, por mim. Por isso,
Gabis, nada de baixar a cabeça, somos fortes, não esqueça.
Pessoas entram e saem da nossa
vida todo tempo, não precisa ter medo de perder ninguém, pois como te disse,
você nunca estará sozinha. Penso que quando Deus escolheu a gente pra descer,
deve ter pensado: saindo do forno um modelo gordinho, cheio de luz, que vai
passar por um montão de batalhadas e vai vencer todas elas.
Você não vai precisar passar por
cima de ninguém para crescer na sua carreira, vai batalhar honestamente pelo
seu lugar, será uma profissional porreta,
daquelas que dá gosto de ver atuando. Fará uma faculdade, uma pós, cursos
profissionalizantes, você terá sede de aprendizado. Porque se tem uma coisa que
você não gosta é de ficar parada. Inquieta, impaciente e impulsiva. E,
sobretudo, de verdade.
Lute sempre pelo que defende,
principalmente, se for o certo. Entretanto, segure a onda com esse seu jeito
intempestivo. Trabalhe muito a sua paciência ou a falta dela. Cuide da sua
energia, só gaste ela com àquilo que vale a pena e/ou que depende de você.
Sua busca pelo autoconhecimento e
evolução espiritual será uma constante. Seu lema, gordinha, vai ser “olhando a
vida com o coração e desenvolverá um lindo projeto que chamará de “Semeando
Gratidão”.
E, para finalizar, eu gostaria de
dizer que estou bem aqui dentro de você. Pode me procurar sempre que sentir
esse vazio. Mainha pediu pra te dizer que ninguém irá substituir o lugar dela
no seu coração. Disse, também, que não tenha medo de perder as pessoas, sempre
existirão outras pessoas. Assim é a vida, de chegadas e partidas.
Fique em paz com seu
#DiogoDoCéu!!!
Com carinho, Gabi na infância.
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