Qual a sua responsabilidade na desordem da qual se queixa?



O título do nosso texto veio de Freud, numa tentativa de nos fazer refletir sobre nós mesmos e, sobretudo, nossas escolhas.

No nosso dia a dia, seja no trabalho, na família, com os amigos, estamos a todo momento fazendo escolhas. Na grande maioria das vezes estamos reclamando e, por isso, mudamos de opinião, fazendo assim, novas escolhas.

Reclamar é um hábito natural do ser humano, é muito mais confortável culpar o outro, responsabilizar o outro, julgar as ações do outro. Não enxergamos dificuldade em chutar cachorro morto, não é mesmo?

A nossa maior dificuldade está em reconhecer o nosso papel em meio à tudo isso. Seja na esfera social, familiar, profissional e/ou pessoal. Temos responsabilidades, temos opiniões, temos que fazer pelo menos a nossa parte.

É que empatia, meus caros leitores, anda em falta. Colocar-se no lugar do outro é um ato de coragem, nem todo mundo está apto para tal. Somos covardes demais para lidar com a dor do outro.
E sim, isso é simples, basta que nos importemos. Temos que reconhecer o nosso papel diante de tudo isso. Precisamos tomar partido.

Depois de chegar até aqui, você ainda não tá convencido de que tem responsabilidades na desordem da qual tanto se queixa?

Não se assuste, essa não é uma exclusividade só sua e nem estamos lidando com nenhum ser de outro planeta. Acredito que essa seja a realidade de muitos de nós.

Vamos à alguns exemplos:

Exemplo 1
Você não gosta da gestão da empresa da qual trabalha, detesta regras e não vai com a cara do seu chefe. Em virtude disso, não se compromete, não participa das atividades, fica alheio à tudo. Embora isso sobrecarregue algum colega. Não importa. De que adianta reclamar aos quatros ventos e não trazer sugestões para melhorar e/ou não procurar suas melhoras?

Exemplo 2
Você não trabalha em empresa privada, é concursado público. Na busca por estabilidade é formado em engenharia, mas trabalha como chefe de gabinete “num sei de quem”. Aí, entediado por não ser àquilo que você estudou pra ser, escolhe passar a vida chegando tarde, saindo cedo e metendo atestado. Reclama por ser infeliz na profissão, mas pelo menos tem dinheiro no bolso, né?

Exemplo 3
Você tá num relacionamento que, falta amor, companheirismo, consideração, enquanto sobra comodismo, desrespeito, ofensas. Ou seja, já passou do ponto faz tempoooo. Daí você se queixa com uma ou outra amiga, fecha os olhos e prefere engolir tudo isso para manter uma relação falida, pois sente-se incapaz de dar a volta por cima. Por vezes você prega que tá tudo bem e sofre calada. Mas, claro, você escolhe ser covarde à ser divorciada ou àquela solteirona que ficou para titia.

Exemplo 4
Você vive no limite da grana, mas suas amigas estão sempre arrumadas, maquiadas, com perfume francês e roupas da moda. Você pode escolher ser você mesma ou viver de aparências, devendo a Deus, ao mundo e ao homizinho do cuscuz, como se isso fosse definir o seu caráter.

Exemplo 5
Você sofre de transtorno de ansiedade, síndrome do pânico, fobia social, vive cheia de medos e angústias, mas sempre escolhe mostrar às pessoas que você é feliz, pra cima, nada te abala, é forte, determinada, se brincar passa até com fria e sem coração. Porque esse é um padrão imposto pela sociedade de que assim são as pessoas bem sucedidas, bem aceitas, bem vistas. Qualquer coisa diferente disso, te faz fraca, desequilibrada, covarde. Aí, quando você escolhe mostrar que você nem sempre é forte, que é um ser humano cheio de fraquezas, defeitos e falhas, muitas pessoas não te reconhecem.

Nesse último exemplo estou falando sobre eu mesma. Que posso escolher ser o que eu quiser e, chorar, cair, errar, demonstrar tristeza, não me faz fraca. Me faz humana, assim como você. Me torna responsável pela desordem ou ordem da qual eu tanto me queixo e, acima de tudo, agradeço.


Gabi D. 

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