A coragem de ser imperfeito!


Na última semana, em nossa cidade, uma linda jovem, residente de medicina jogou-se de um prédio e deu fim à própria vida.

Por que eu frisei o fato dela ser residente de medicina?

Porque as pessoas de um modo geral, tem a ideia de que médico um ser tão evoluído, mas tão evoluído que chega perto de ser Deus. Logo, devem ser sempre exemplo, referência. É muita ignorância de quem pensa assim.

Muito se viu e se leu nas redes sociais. Um monte de doutores na arte de especular sobre os motivos, causas e razões que, só a jovem Ligia poderia responder. Embora não devesse satisfação a seu ninguém.

Foi diante de muito do que eu vi e li que lembrei do livro que estou lendo e que usei-o como título desse texto de hoje. 

A sociedade hipócrita, mesquinha e preconceituosa em que vivemos nos impõe um modelo de vida surreal. As pessoas precisam ser magras, saudáveis, bem sucedidas, andar na moda, circular nas altas rodas, mesmo que para isso o seu emocional esteja uma verdadeira merda. E acredite, muitas vezes estão. (Estamos).

Lembro de quando comecei a escrever sobre ansiedade e crise de pânico, transtornos que eu vivo no meu dia a dia. Foram vários os feedbacks que recebi de pessoas muito próximas dizendo sofrer da mesma coisa e admirando o fato de eu admitir e falar sobre isso.

PRECISAMOS FALAR SOBRE ISSO SIM! Não há porquê termos vergonha. Não é fraqueza ir ao psicólogo, tampouco, é feio ser taxada de doida por ir ao psiquiatra.

Fraqueza é viver doente, emocionalmente abalado, querendo provar para alguém uma coisa que você não é e vivendo uma realidade que você não tem.

Somos seres humanos, vivemos nessa roda gigante da vida e nem todos os dias estamos lá em cima, quem convive com a gente precisa saber lidar com esses altos e baixos. E sabe quem vai ficar? Quem realmente se importa.

É muito fácil compartilhar o texto do Facebook que fala da depressão do Padre Marcelo e/ou do pânico do Padre Fábio. Assim como, é fácil apontar, julgar, recriminar e tirar suas próprias conclusões.

Sabe o que é difícil?

  •        Saber os motivos pelos quais sua mãe chora escondido;
  •        Se importar porque que sua amiga que sempre estava na balada prefere ficar em casa vendo Netflix;
  •        Admitir que àquela colega que sempre posta coisas, some das redes e você não tem tempo de ver que ela sumiu;
  •        Aceitar que alguém com família boa, oportunidade de estudo, bem relacionada não tem o direito de adoecer;
  •        Acreditar que o fato de ter tudo não lhe dar o direito de ser infeliz.


Eu passaria aqui mostrando exemplos sem fim. Mas, esse não é o objetivo central do texto.

Viver nessa sociedade, diante dos pré-requisitos exigidos, significa uma ousadia muito grande. E é aqui que trago um trecho do discurso de Roosevelt, proferido na Sorbonne*, em abril de 1910, que diz:

“Não é o crítico que importa; nem aquele que aponta onde foi que o homem tropeçou ou como o autor das façanhas poderia ter feito melhor. O crédito pertence ao homem que está por inteiro na arena da vida, cujo rosto está manchado de poeira, suor e sangue; que luta bravamente; que erra, que decepciona, porque não há esforço sem erros e decepções; mas que, na verdade, se empenha em seus feitos; que conhece o entusiasmo, as grandes paixões; que se entrega a uma causa digna; que, na melhor das hipóteses, conhece no final o triunfo da grande conquista e que, na pior, se fracassar, ao menos fracassa ousando grandemente”.

Jogar-se de um prédio não é fraqueza, é preciso muita coragem para subir lá no alto e cair em queda livre. Suicídio não é falta de Deus. Se fosse, vovó Maria, beata fervorosa, vivia nas novenas lá na Igreja de Santana, jamais teria cometido um ato desses.

“Ser ‘perfeito’ e ‘à prova de balas’ são conceitos bastantes sedutores, mas que não existem na realidade humana. Devemos respirar fundo e entrar na arena, qualquer que seja ela: um novo relacionamento, um encontro importante, uma conversa difícil em família ou uma contribuição criativa. Em vez de nos sentarmos à beira do caminho e vivermos de julgamentos e críticas, nós devemos ousar aparecer e deixar que nos vejam. Isso é vulnerabilidade. Isso é a coragem de ser imperfeito. Isso é viver com ousadia.”

Passamos a vida inteira tentando contornar e vencer essa vulnerabilidade. Tentamos de tudo para agradar e obedecer a padrões que não são nossos. E, é aí que mora o problema. Não temos que viver para o outro. Temos que assumir os riscos e nos comprometer com a nossa vulnerabilidade, é isso que vai determinar o alcance de nossa coragem e a clareza dos nossos propósitos. A incerteza, os riscos e a exposição emocional que enfrentamos todos os dias não são opcionais.

Precisamos nos importar com o que sentimos, sem medo ou vergonha. E isso tá longe de ser vitimismo. Devemos olhar para o outro além das fotos postadas em seu Instagram. Nunca, a tecnologia nos permitiu estarmos tão próximos uns dos outros, na mesma proporção que nos sentimos tão distantes, sobretudo, vazios.

Estamos vivendo uma epidemia das tais doenças da alma, não espere acontecer dentro da sua casa para se importar. A vida é mesmo o tal sopro, meus caros. Ligue hoje, fale agora, abrace, dê/peça colo. Que tenhamos um ano todo AMARelo.

Gabi D.   




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* A Sorbonne é um sítio histórico situado em Paris, França. Seu nome é alusivo ao teólogo do século XIII Roberto de Sorbon, fundador do Colégio de Sorbonne em 1257, que à época era dedicado ao ensino de teologia. Ele veio a ser o capelão da Casa Real e confessor de Lupis IX, rei da França. 







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