Passados pouco mais de trinta
dias da minha experiência com a Janela do Céu, mesmo ainda não preparada totalmente,
eu gostaria de escrever sobre essa experiência.
Acredito que em outra vida eu
tenha sido mineira. Gosto do lugar, da cultura, dos costumes, o sotaque, tudo....
No entanto, esperei 35 anos para conhecer aquele que um dia será “o meu lugar”!
Sempre que eu pensava em viajar, eu
escolhia o Rio. Sempre. Pelo Pão de açúcar, o Arpoador, o samba... Pela Lapa, a
muretinha, a noite...
Até que, ano passado, fui
surpreendida por essa foto abaixo e pensei: esse será meu próximo destino. Afinal,
quem vê a paisagem, não imagina o quanto sofre para chegar lá.
Google aí vou eu!!!
Interior de Minas Gerais, Cidade
de Lima Duarte, distrito de Conceição do Ibitipoca e adivinha? Mais perto do
Rio de Janeiro do que de Belo Horizonte, mas... era a hora de eu conhecer Minas
né, gente?
Diogo do Céu já sabia, eu só
descobri ao chegar lá, esse era o momento para eu aprofundar um pouco mais no
meu íntimo e viver todas as transformações interiores e, consequentemente,
exteriores que aquele caminho me proporcionaria.
As mudanças começaram pelo
roteiro e estilo. Nada de vibe noturna, balada, cachaçada. Embora, algumas
vezes, eu tenha precisado recorrer à essa última para poder prosseguir.
Lá em Ibiti, com apenas 700
habitantes, não tem muito o que fazer além das atrações do Parque Estadual de Ibitipoca que, pode ser visitado sem guia, pois todas as
trilhas são sinalizadas e conta com o Circuito das Águas, as grutas, a
cachoeirinha e a tal Janela do Céu.
A caminhada é longa. 16Km. Cerca
de 6 a 8 horas com (infinitas) paradas. A mochila pedia protetor solar, calça,
camisa UV, botas e muita, muita disposição. Água e lanchinho de fácil absorção
foram indispensáveis.
A subida inicial, até o Pico do Cruzeiro,
primeira parada, não é íngreme não, se amostra, porém, corresponde a apenas 1,6
km do ponto de partida. Todos dizem que se passar por essa subida, o resto é
moleza. Eu já sofria com cansaço e estava disposta a encerrar ali mesmo,
porém...
... o lugar é mágico e Deus disse para eu continuar!
A altitude máxima do circuito é
de 1.784 m, fica lá no Pico da Lombada. Nessa hora eu já tava com uma dor de
cabeça fora do comum e a respiração bem cansada. O tempo estava fechado, só se
via nevoeiro. Contundo, foi o trecho mais “fácil” de se chegar.
Não entrei em nenhuma gruta,
minha síndrome de pânico fica saliente em lugares mais fechados e eu queria
poupar o que pudesse de energia. Talvez, já tivesse prevendo o que viria pela
frente.
Dali em diante foram muitas
descidas, íngremes e com muitas pedrinhas, tornando-as escorregadias. Tive que
colocar força extra nos pés e pernas o que, logicamente, me fez sentir joelhos
e tornozelos.
Chegamos a tal Janela, mas ela
não era o fim. Fiz umas duas fotos, sem muito ânimo, já estava esgotada e muito
preocupada com a volta. Aproveitei para
tomar um banho de gratidão e conversar mais tiquinho com Deus. Agradeci por
chegar ao objetivo e pedi força, discernimento e sabedoria para a volta. Eu só
pensava nessa volta. Pois a máxima de que tudo que sobe, desce e vice-versa,
não parava de ecoar no meu juízo.
Na volta, já na escadinha de
acesso à Janela eu quis ficar. Não conseguia dar nenhum passo que não doesse
tudo. Sobretudo, minha consciência. Em menos de 500M eu comecei a chorar e a
tremer de nervoso. Um misto de raiva, tristeza, culpa, medo, impotência e frustração
se apoderaram do meu ser. Eu só consegui pensar: Fui em busca da janela do céu
e me deparei com o inferno.
Andei, andei muito e era só
subida. Quando eu vi uma placa que dizia: portaria do Parque 7.000M, eu
desabei. Não tinha mais condições de seguir. Ali mesmo eu agradeci à Diogo do
Céu pela vida, por ter chegado até ali e que não tinha nenhum problema em
cantar pra subir. Minha missão aqui na terra acabara. Pedi para
as meninas seguirem. Melhor ficar duas para trás e duas pedirem ajuda, do que
morrer as quatro à míngua.
Tásia e Iza seguiram. Ficamos eu
e Samya. A cada 10 minutos andando, eu parava 20. Esses números são hipotéticos,
pois eu não conseguia mais discernir nada. Lembro de Samya dizendo: “Gaybi,
vamos andar mais um pouquinho, porquê não vem carro nenhum não...”
Acho que essa frase acendeu algum
interruptor aqui dentro, que eu respondi: “Bora.
Mas, também, se esse carro aparecer na minha frente, eu não entro nem pelo
caralho.... Agora eu vou terminar essa porra!”
O carro apareceu, gente, Sabe o que eu fiz? Entrei no carro. Tinha espaço para
orgulho na minha bagagem não. Ela já estava pesada o suficiente. Perguntei ao carinha se faltava muito: "Vocês já chegaram. Só falta uns 200 metros."
A experiência foi muito além do
exercício (desgaste) físico. Foi algo que me proporcionou lidar com minhas
dificuldades emocionais e até mesmo com dores na minha alma. Ali não fomos
caminhantes, mas sim peregrinas. Buscávamos algo no final do trajeto, ou seja,
a bendita da Janela do Céu, mas como eu disse. Lá não foi o final.
“A cadência do peregrino se faz
mantra, expandindo a nossa consciência e tornando-nos mais capazes de enfrentar
as circunstâncias. Afinal, é durante o caminho, quando retomamos prazeres
simples e encaramos limitações e monstros, que a gente se transforma. ”
Você deve estar se
perguntando se eu recomendo esse roteiro? Com certeza!
Se eu pretendo voltar lá? Não
mesmo! Em Ibiti, talvez.
Se eu me arrependo? Também não.
Como
tudo na vida, acredito que tinha um propósito nessa minha viagem e,
principalmente, que eu tirei as lições necessárias.
Eu diria que ainda estou tirando.
;)
Quer saber mais sobre Ibiti e a Janela do Céu, confere o link: http://www.ibitipoca.tur.br/
Gabi D.
P.S. essa última foto foi no começo da trilha.
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