Partiu Sucatinha!!!


O ano era 2011. Março, carnaval e usei os dias de folga para me mudar. Era um quarto/sala/banheiro minúsculo e já na primeira semana eu percebera, era muito quente. Parecia bem pequeno para caber toda a minha felicidade de, depois de um período conturbado, que engloba - mudança de cidade – um princípio de depressão – voltar sem nada e pra morar com um amigo-irmão que me acolheu – eu estava no MEU LUGAR. Alugado, mas era meu. Logo eu batizara de Budega da Gabis.

Foram nove anos e oito meses. Pouco mais de 3500 dias. Tivemos uma boa vida juntas. Quente, é bem verdade, mas amenizada por tufão, tornado e ventania – meus três ventiladores. Aquelas paredes não só sustentavam fotos, elas ouviram muitos choros e bastante gargalhadas. Foi lá que amadureci, cresci, viajei pra fora e, sobretudo, pra dentro. Eu já disse que era o meu lugar, né? Embora eu me incomodasse com o calor, o pouco espaço, eu me sentia “em paz” ali. Talvez fosse meu pavor da palavra MUDANÇA que estivesse falando mais alto e, com isso, eu não cogitava sair de lá.   

Até que “topou”, sabe? Não, não sabe, se não for do Nordeste. Cheguei no meu limite. Queria ar, ver o céu, poder não me sentir numa caixa. Precisava de espaço. Comecei a pesquisar, queria na mesma região e, em uma semana achei o lugar ideal. Na rua de trás da Budega da Gabis. Marquei a visita, preenchi a papelada de noite e ao acordar já estava aprovado. Foi tudo muito rápido.

Partiu sucatinha!!!

Esse é o apelido que dei ao prédio. Bem antigo, mas eu teria o que mais precisava no momento – ar / espaço. A primeira sala + varanda juntas corresponde ao espaço que eu tinha na Budega da Gabis. Meu escritório não é mais na cozinha e eu escrevo esse texto vendo o sol se despedindo, através de um janelão que tem como pano de fundo o Parque das Dunas.


Você deve estar se perguntando: o que isso tem a ver com a imagem proposta?

Então, quando eu vim para VT eu vim com um foco: espaço. Ver os janelões – velhos – em cada ambiente soprando vento na cara já me ganharam. Eu não precisava de mais nada. É esse. É meu. Aonde assino? Quando posso mudar?

A mudança não demorou, a ansiedade de colocar tudo no lugar, não dividir mais meu armário com mercadorias. Ter um quarto exclusivo para as minhas práticas, ter uma varada pra reunir os amigos e não precisar mais fazer isso na “cama com Gabi”. Tudo isso era incrível demais para eu ver os estragos.

A sucatinha não era só externa. Infiltrações e vazamentos nos banheiros. Os janelões com a madeira podre. O que tem no quarto do santuário não abre. Já o do quarto saldão, não fecha.  Até que eu abri o armário embaixo da pia... E eu tenho certeza que essa foto proposta foi tirada de lá. O mofo tomava conta das paredes descascadas, a prateleira estava completamente podre, minha rinite grita toda vez que preciso abrir esse armário. Já troquei a prateleira, mas o problema é estrutural, infiltração, pia antiga, não diferente de todo o resto.

Mas, sabe como me sinto? Exatamente como essa parede, tirando a casca do velho, do antigo, da zona de conforto que tinha lá na Budega da Gabis, me desfazendo do medo de mudar. Pronta para o novo, para nos restaurar – o armário debaixo da pia e eu, claro – cuidando do novo lar, do meu NOVO LUGAR.

 

Gabi D.


Texto produzido para o 1º desafio do Clube da Escrita, ministrado pela @anaholandaoficial. 




 

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