Costumo acreditar que, quando somos escolhidos pelo Universo – aqui eu chamo Universo, pois não sei qual religião você segue – para vir numa nova vida, a gente tem dia, hora, cidade, família e data para voltar pré-determinadas.
Algumas pessoas são
centenárias, vivem muito além da taxa média de mortalidade. Outras nem se
formam, morrem sem nascer. Há aqueles que não obedecem o curso natural da vida
e, partem jovens, antes dos seus pais.
Em todas as situações a
perda dói, machuca, dilacera – até então estou falando de morte morrida.
Contudo, acredito que, mesmo quando é morte matada, há dor, vazio e uma culpa dilacerante.
A pequena Isis Helena, com
apenas 1 ano e 10 meses teve seu ciclo de vida interrompido. De acordo com a
polícia, a principal suspeita é sua própria mãe que, por sua vez, é encontrada
morta com apenas 26 anos.
Estamos falando de duas
vidas interrompidas. A primeira que nem teve tempo de saber para que veio a
esse mundo. A segunda com a certeza de que não queria viver nesse mundo.
Não tenho ideia do que
passou na cabeça da Jennifer, mas foram duas decisões muito corajosas – se for
confirmada que ela assassinou a filha e depois suicidou-se. É preciso ser muito
forte para ter tamanha coragem. E arrisco dizer que essa força veio das suas
fraquezas. Sim. No plural. Não deveriam ser poucas.
Não estou aqui para julgar
os atos. O que a motivou. Não sou repórter policial, tampouco o alecrim dourado
dona da verdade absoluta.
O que eu gostaria mesmo era
de ter cruzado o caminho de Jeniffer, ter podido ouvir suas dores, medos, distúrbios,
quem sabe dar-lhe um abraço, uma orientação e até pegar a Isis no colo?
Muitas vezes é só uma
palavra, uma acolhida, um “eu tô aqui” que o outro está precisando e a gente tá
do lado e não enxerga.
Como não posso fazer nada
disso, acendo uma vela para cada uma e peço que encontrem a luz.
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Texto produzido para o 3º desafio/MAR do Clube da
Escrita, ministrado pela @anaholandaoficial.
O terceiro encontro
de Março nos desafiou a escrever a partir de uma notícia de jornal, onde a mãe
acusada de matar a filha de 1 ano e 10 meses, possivelmente cometera suicídio na
prisão.
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