Encerrando ciclos | Pense em alguém do passado para quem você gostaria de ter dito algo, mas não teve oportunidade. Então, escreva para ela, dizendo tudo o que você sempre quis.

 


 

Olá Roberto, tudo bem?

Espero que sim, ou pelo menos, na medida do possível.

Talvez eu tenha muita gente pra escrever, mas quando fala em encerrar ciclo / alguém do passado / dizer o que não foi dito, eu sempre lembro do senhor.

Às vezes eu queria te apagar / esquecer, assim como fizeste comigo, desde aquele carnaval do infortúnio, em 2009.

Você falar de mim pelas costas não é novidade. Não foi o primeiro e nem será o último. Não foi isso que me chocou.

Ouvir que eu sou uma puta bêbada, rapariga da pior qualidade, que não quer mais seus filhos andando comigo e tá dizendo para Assis fazer o mesmo, ou seja, proibir os filhos deles também. Isso sim me tirou o chão.

Você se quer me deixou explicar / me desculpar. E, por sua justiça decidiu me condenar.

Quem é você? Deus?

Tudo bem, eu estava na sua casa, o comportamento não foi legal, mas isso lhe dá o direito de me julgar e condenar dessa forma?

Eu cheguei bêbada sim. Fui direto deitar. Por estar com a perna imobilizada, em virtude de uma fratura no joelho, não consegui chegar a tempo no banheiro e acabei fazendo xixi no chão.

Isso faz de mim uma puta embriagada? Rapariga da pior qualidade?

Durante toda a minha vida fui uma guerreira? Passei por tudo que uma criança não deveria jamais passar: abandono de incapaz, abuso e maus tratos, violência doméstica, lidei com drogas, estelionato, ameaças, sexo na minha cama, dormi na rua, em prostibulo e passei fome.

Com todo esse histórico nunca repeti um ano de estudos, terminei a escola, trabalhei pra poder ir pra faculdade, moro e me sustento sozinha desde 2008. Me forme, batalho muito pra manter minha independência e, posso estar bêbada muitas vezes, fazer um monte de merda, mas bato no peito cheia de orgulho, da mulher que me tornei.

Nunca usei drogas. Nunca abusei, maltratei ou fiz ninguém passar por nada semelhante ao que passei. Quiçá julguei ou condenei as ações de alguém sem ouvir o seu lado da história. Mesmo que não me deem a mesma chance.

Se fazer xixi no chão do quarto fez de mim uma puta bêbada e imprópria para andar com seus filhos e, também, não frequentar mais a sua casa, tudo bem.

Não sei em que isso manchou sua honra. Mas, eu só posso pedir perdão. E respeitar. Nem preciso dizer que não vai mais acontecer, afinal, fiz o que o senhor desejava, nunca mais pisei lá.

Eu queria mesmo era ter saído exatamente naquele dia, mas minhas condições não permitiram. Não tive escolha. Precisei esperar mais um dia. E saí pra nunca mais voltar.

Eu sempre fui uma pessoa boa, na verdade eu sou. Prova disso é que no meu agradecimento que fiz após minha internação, senti vontade de dizer tudo isso, mas ali só tinha espaço para gratidão.

Sou tão boa que, numa festa ainda adolescente, sua filha tomou todas, eu nem estava com ela, mas fui culpada pela embriaguez que nem era minha e nunca abri a boca pra me defender. Os seus filhos e de Assis que você disse pra não andarem mais comigo já provocaram acidentes por beber e dirigir, já arrumaram confusão e já foram até parar em delegacia. Eu nunca deixei de andar com eles por isso, muito pelo contrário, quando estava junto até segurava a onda ou fazíamos merdas mais saudáveis.

Eu sei quem eu sou. O que sou.

E eu sou muito mais que isso que você pensa de mim.

Você querendo ou não.

Eu sobrevivi apesar de você. Não graças a você.

Se quiser um dia conversar, pode vir me visitar. As portas estão sempre abertas para acolher e deixar o amor falar.

Que Diogo do Céu lhe abençoe sempre.

 

 

Gabi D. 

Texto 5 - Para a comunidade de Continuidade da Escrita Intuitiva do @gutanaka.

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