Era Festa de Sant’Ana, a padroeira de Caicó. Minha cidade de
nascença e onde eu passava todas as férias do meio do ano.
A casa ficava cheia – somos muitos primos – e logo depois do almoço
já começavam os preparativos pra descer pra praça. Os adultos ficavam papeando,
bebericando, enquanto a gente, saía em bando para as milhares atrações dos
parques. Sim, a festa é tão tradicional que tinha um parque em cada praça.
A primeira atração era unanimidade: Monga. A mulher que vira
gorila.
Compramos os ingressos, esperamos a fila. A gente só entrava na
sessão juntos.
Parecia uma formação de quadrilha. E era. Dado nível de delinquência dos meus
primos.
Começou o suspense... –
Monga, a mulher que vira gorila, veio não sei de onde...
Para dar vida ao número, efeitos de luzes, som e gritos
gravados. Ela começa a bater e forçar as grades.
A voz do narrador dizia: – Os pelos estão surgindo, sua face transforma-se,
em instantes a jovem não será mais a mesma.
– Calma, Monga!
Os meninos ficavam à frente em posição de ataque. Enquanto a
voz ecoava:
– Ela não controla a sua força, está possuída, ela vai
quebrar tudo.
– Calma, Monga!
– Monga, não faça isso. Não ataque os visitantes. Calma, Monga!
A gente ria e gritava, não dava pra saber quando começava um
e terminava o outro.
Os meninos chutavam, esmurravam, batiam na Monga. E, como a
gente costuma dizer por aqui, Monga pegou ar. Avançou braba.
Eu sempre fui meio medrosa, sempre ficava encolhida atrás. Eu
gostava de ir pela bagunça. Embora soubesse que aquilo era um truque, quando
senti o braço peludo da Monga encostar no meu, definhei no canto e fiz xixi na
roupa.
Não bastasse a vergonha de sair toda mijada, ainda tive que
aturar os deboches dos meus primos.
Um tio me levou em casa pra trocar de roupa e voltei ao
parque. Me danei a brincar de novo. Calcinha trocada, página virada.
Não lembro de ter ido em Monga depois disso. Devo ter ido, tinha
dias que a gente ia mais de uma vez, não era um xixizinho que me faria abdicar
da diversão.
Gabi D.
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Desafio 002Jun do Clube da Escrita, ministrado
pela @anaholandaoficial.
O segundo desafio de Junho nos propõe
escrever um texto alegre como a gargalhada de uma criança. Não importa o tempo.
Importante é observar o processo. A cadência.
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