Quando eu era pequena quis ser muitas coisas. Cabeleireira,
porque adorava arrumar os cabelos alheios; Aeromoça pra viver viajando; e jornalista,
pois amava escrever.
O mais perto que cheguei dessas aspirações foi, em casa
mesmo, limpar a sobrancelha e chabocar os dedos das minhas tias. Cada serviço custava
R$ 2. Eu já tinha tentado a parte de
cabelo, mas quando arranquei minha franja fora, vi que não seria um bom
caminho.
A gente cresce, o número muda. Os sonhos, por vezes, também. Continuei
amando escrever e passei a querer ser escritora. E pensava: - eu ainda vou escrever um livro... E vou. Ou
melhor, estou.
Sonhos são assim, né? A gente tem que levantar todos os dias
com foco em conquistá-los. Lutar por eles. Fazer a nossa parte. Só assim o
universo poderá conspirar. Pelo menos eu acredito muito nisso.
Lembro que ainda bem menina, a minha casa era uma espécie de
pensão. Sempre que alguém vinha do interior ou do Norte, era lá que ficava. Mainha
dizia que onde comem 10, comem 12. Tinha um sobrinho dela que viera do Acre, passar
uma temporada em Natal. Ele saía todos os dias de branco, dizia que era enfermeiro.
Morávamos perto do Hospital Universitário e, também, da Maternidade, mas ele
nunca me dissera em qual dos dois trabalhava. Até que um dia, alguém lá de casa
foi pegar uma ficha no Hospital e viu ele perambulando por lá, tentando se infiltrar.
Eu nem sei se chegou as vias de fato, isto é, incorporar o personagem. O que eu
sei é que ele levou um batido da muléstia quando chegou em casa. Meus tios –
uns cinco homens – caíram de pau nele.
Ele não batia bem da bola, isso é um fato. Eu penso que
muitas pessoas que se passam por outras, tem sim algum sonho frustrado, que foi
reprimido ou por seja qual for o motivo, não alcançado. E, lidar com
frustrações é muito difícil, a pessoa tem que tá com a cabeça muito boa. Não
era o caso do meu primo. A gente precisa conhecer a história de cada um para
entender o que levou a tal atitude, se isso era só um devaneio por não bater
bem da bola, assim o caso deve ser tratado por psiquiatra. Ou se a motivação
para ser alguém que você não é, tem motivações criminais, se for, o caso deve
ser tratado pela polícia. Seja qual for a situação, é muito triste ver que
essas atitudes podem fazer mal a alguém, principalmente, a si mesmo.
Gabi D.
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Desafio 002Jul do Clube da Escrita,
ministrado pela @anaholandaoficial.
O segundo desafio de julho nos propõe
escrever uma crônica a partir de um fato do cotidiano que foi determinado no exercício.
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