Ei medo...


Meu maior medo é não poder me sustentar. Ficar a mercê de ajuda, seja pra comer, seja pra morar. E isso é fruto de muitas crenças e experiências passadas.

Não ter dinheiro para as contas básicas me deixa bem “nas bad”. Muito, muito medo de ter que pedir para alguém pagar um papel de luz, comprar um remédio e... por fim me abrigar. Tá longe de ser ego. (Antes que o tribunal da internet comece a julgar)

Não preciso mergulhar muito fundo para entender porque essa escassez me paralisa. A minha infância / adolescência toda foi assim.

Mainha não tinha de onde tirar. Era ela quem me criava, logo eu dependia do que os tios mandavam lá pra casa.

Nas festas de Santana, dependia do que tia Angelita comprava para Carol, sempre tinha algo pra mim; nas férias da Redinha, dependia da festa de aniversário que Pompom fazia pra Rapha, assim eu comemorava o meu.

Até que Mainha morreu, então eu passei a depender que tia Ocyara – lá do Rio – ou Nega pedissem/fizessem por/para mim; ou tio Gordo me desse. Ele sempre dava. Elas, também, davam seus pulos.

Dependia que tio Oberdan e tio Osni pagassem a escola, o plano de saúde; dependia que tio Ocimar me levasse para o shopping e comprasse o lanche. Me lambuzava com o óleo que escorria da mister pizza.

Parte do ano eu passava na casa de um, as férias na de outro. Tentei morar com Nega, não me adaptei, até que Tia Ocyara veio morar em Natal e, era a vez dela ficar com o pacote. Morava de dia lá e de noite em Gordo, que estava doente e não podia dormir sozinho.

Embora eu tenha começado a trabalhar em 2001, eu não era independente de moradia, tinha que engolir alguns sapos, engolir muitos choros e reprimir tudo que eu sentia. Eu sempre senti demais.

Foi só em 2008 que ganhei um lugar pra chamar de meu. Alugada, claro, mas era minha. E foi ali que comecei a trilhar minha independência. Por que demorou 7 anos para isso? Porque eu escolhi estudar / me formar e só podia arcar com uma das despesas.

 Já são 13 anos morando sozinha, responsável por aluguel, luz, telefone, internet, plano de saúde, feira, remédios (desenvolvi ansiedade, crise de pânicos e sérios problemas nas articulações). E ainda tem que sobrar pra ter uma vida social, não é mesmo?

Então, sempre que perguntada qual meu maior medo, é exatamente não poder estar ali pra mim; é ter que viver tudo aquilo outra vez; é lembrar de ter que rasgar todos os meus diários por não ter espaço pra eles na próxima casa que me abrigaria; é ouvir “junte seus panos de bunda” e fica esse mês lá em casa ou vai ser despejada junto com os drogados dessa casa; ou a pior de todas “a feira daqui dava pra um mês, agora tenho que mandar a cada 15 dias”.

Graças a Deus tudo isso já passou. Eu trabalho muito, muito mesmo, batalho pra ser o melhor que eu puder com as condições que tenho. sempre lembrando de onde vim que é pra ficar bem longe de qualquer possibilidade que me leve de volta pra lá.

Estudei, continuo estudando, é bem verdade, tenho sede de aprender e busco evoluir para que eu tenha só motivos para me orgulhar de quem sou.

Eu sou a gordinha do olhos do meu Diogo do Céu.

 

Gabi D.

Texto 21 - Para a comunidade de Continuidade da Escrita Intuitiva do @gutanaka e @becker.carolina.

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