Decreta x desdecreta...

 ...e o produtor de evento que lute!






 [Todas essas decisões aconteceram em um intervalo de cerca de cinco dias. As da prefeitura em menos de 24 horas.]

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Passei uma semana pra escrever sobre isso e ainda relutei. Muito.

Quem me conhece e acompanha percebe que eu detesto política, falar sobre ela então é algo que me deixa pesada. Quiçá escrever no meu bRog!

Eu gosto mesmo é de falar sobre amor, aquele genuíno, que sente do coração pra dentro.

Então pensei: e quem disse que esse texto não é sobre amor? Onde diacho eu tava com a cabeça que não percebi isso antes? Já sei!

Primeiro na raiva. Depois na indignação. Estacionei na preocupação. Mas teve espaço sim para gratidão. E percebi que, para sentir todos esses estágios, primeiro eu sentia mesmo era amor.

Mês que vem completamos dois anos de pandemia, quarentena, lockdown, fecha tudo, não pode nada. Fica só o serviço essencial.

CLAROOOOOO que festa não é essencial! Não existe famílias por trás dos palcos. Garçom, ASG, carregador, montador, empresas de luz, som, estrutura, produtores, artistas, ninguém come, nem paga contas, tampouco tem família.

Eu precisaria dizer isso? Preferia não. Contudo, é necessário dizer o óbvio.

“É melhor suspender agora e depois voltar com segurança”; “antes os eventos do que tudo”; “já já passa e tudo volta”; “mulher, pelo menos você tá empregada”.

Essas são as frases que mais ouço de quem é concursado, cargo comissionado, trabalhador do comércio...

A gente precisa se colocar no lugar do outro, né?

Lembra quando lá em cima falei de gratidão? Primeiro é por estar empregada, em tempos de pandemia, empresas tentando se levantar da rasteira, ter um emprego, sobretudo, num lugar que você admira e acredita, é um privilégio de Diogo do Céu. Depois, por durante todo esse tempo, não ter ficado parada nenhum minuto se quer. Eu trabalhei muito, me reinventei. Ressignifiquei a pandemia. Como eu fui gigante. Tenho muito orgulho.

Em 2020 foram dias e noites, eu e Biliu, fazendo o que a gente faz de melhor, trocando figurinhas sobre readequar projetos, uma frase de efeito ali, ajustando planilha aqui, chorando no pé dos fornecedores, incluindo mais bandas do que o previsto, assim ajudávamos mais pessoas, indo pra guerra, fazendo acontecer. E a gente fez coisa, viu? Que orgulho, man!

Em 2021 eu quase perdi pra Covid. Saí de lá direto pra um evento. Evento que eu elaborei, produzi, dirigi, roteirizei. No final, eu até apresentei. (Não tenho coragem de ver!) Quando eu estava internada eu só pensava nesse evento. Quando fui pra UTI, sem celular e nem contato com o mundo externo, eu só me perguntava se as coisas estavam andando, se meus meninos estavam ensaiando. 

Em 2022, com o avanço da vacina, com toda a experiência dos últimos dois anos, não é possível que a gente regrida. É INADIMISSÍVEL esse retrocesso. A gente vê São Paulo realizar eventos, a gente vê a Paraíba – aqui do lado – mantendo programação.

Enquanto aqui, Governo e Prefeitura ficam brigando de quem manda mais, colocando os seus interesses políticos acima de qualquer coisa. Isso é, no mínimo, revoltante. Existe muita coisa em jogo. E eu posso provar!

Acompanho produtores sérios e tenho outros tantos que são amigos próximos que movimentam toda uma cadeia de profissionais, proporcionam emprego, renda, alimento, dignidade, porque só a gente sabe o quanto é ralado pra “colocar o bloco na rua”.

Eventos como Carnatal, Olinda Beer, Carnaval de SP e RJ – que são referências – Rockin Rio, Fórmula 1, nada disso se realiza da noite pro dia. Exige planejamento, divulgação, logística, tempo para se trabalhar e vender o evento.

Vamos de exemplos?

Trazer uma banda nacional – as ditas grandes – precisamos assinar contrato, pagar um sinal que varia entre 20 e 40% do valor total do contrato. Estamos falando em muitos mil, não é cachê de conjunto prostituto que cobra R$ 600.

Essas bandas “grandes” viajam com cerca de 12 a 15 pessoas, conhecendo bem a nossa malha área, uma passagem pra cá está custando no barato R$ 1200 (ida e volta), quando se vai remarcar, o preço é o mesmo, por apenas um trecho. Dá pra tu?

Como se planeja e faz evento com esse governo e prefeitura e sua imprevisibilidade? Tendo que arcar com esses custos e as incertezas de quando poderemos realizar?

Pra você que compra o ingresso é muito simples – ou não compra, ou cancela a compra – e como a gente paga essa conta?

A classe de produtores de evento merece respeito e a retomada dos eventos não pode ser brecada dessa forma. Para os leigos, recomendo o Instagram e site da ABRAPE – Associação Brasileira dos Promotores de Eventos – eles estão fazendo um trabalho incrível para brigar e defender a nossa classe. Repito: tem muita gente séria e competente fazendo acontecer. Ou, pelo menos, tentando.

Eu não quero ter que fazer vakinha pra ajudar a “turma da graxa”, eu não quero ver meus parceiros vindo na minha casa pegar cesta básica ou enviando um boleto pra eu pagar a conta de água ou luz. Eu quero fazer eventos e proporcionar pra eles trabalho. Honrado. Digno.

Eu não quero ver amigos cancelando eventos, porque eu sei quantas famílias são penalizadas com isso; não quero ver outros surtando, enfartando, matando, roubando, suicidando; Eu não quero ter que enviar e-mail para suporte de aplicativo de ingresso pedindo reembolso, pois eu sei que isso lasca o produtor do lado de lá e, me lasca de cá, pois não posso ficar com essa grana parada. Desculpa, Acioli.

Eu quero ver negacionistas se vacinando – se pra isso for preciso passaporte vacinal, eu apoio, defendo, vou até pra ru; Quero ver governo e prefeitura convocando mais profissionais da saúde na linha de frente, hospital de campanha funcionando a todo vapor, mais centros de atendimento à população abastecidos com testes e equipe qualificada.

Eu quero a ver a vida acontecendo, afinal a pandemia tá longe de acabar. O vírus sofre mutação o tempo todo. Ele é mais evoluído que a gente. Fechar tudo, suspender serviços não vai resolver o problema. Temos que encontrar o meio termo. E as guerras políticas não contribuem em nada com o melhor pra gente.

Lembra quando lá em cima falei que esse era um texto sobre amor? Então, eu não faço eventos. Eventos não é um negócio. Eu amooooo eventos. Eu não o escolhi, nem sinto que poderia. Na verdade, fui escolhida. Fui preparada. Ensinada. Eventos olhou pra mim e disse #ÉELAAAAA!

Eu sou feliz na balada, rindo, dançando, festejando, bebendo, sambando. Massss, eu sou muito mais feliz, realizando!

 

Gabi D.

 

 

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